A recente alta do dólar, que levou a moeda norte-americana a se aproximar dos R$ 5,70, tem sido amplamente debatida. Um estudo econométrico revela que mais de 80% da desvalorização do real no primeiro semestre de 2024 se deve a fatores internos do Brasil, refutando a hipótese de um ataque especulativo contra a moeda brasileira.
Segundo Livio Ribeiro, economista e sócio da BRCG Consultoria, a depreciação do real está ligada ao aumento da percepção de risco interno. Ribeiro, que também é pesquisador associado da FGV/Ibre, desenvolveu um modelo que mede a contribuição de diversas variáveis na formação do preço do dólar. Essas variáveis incluem a cotação diária, o CDS (indicador de risco-país), o índice DXY (que mede a força do dólar contra uma cesta de moedas), o índice CRB (preços de commodities), os juros dos títulos públicos de 10 anos dos EUA, e a diferença de juros de um ano entre as taxas americana e brasileira.
O estudo analisou o período de 29 de dezembro de 2023 a 1 de julho de 2024 e descobriu que o DXY aumentou apenas 4,5%, um movimento significativamente menor do que o registrado contra o real. Levando todos os fatores do modelo em consideração, os resultados mostram que os fatores domésticos contribuíram com 82,16% para a alta do dólar, enquanto os fatores externos contribuíram com 26,43%.
“A contribuição doméstica nesta intensidade não é usual no modelo que rodamos há mais de 10 anos,” afirmou Ribeiro. Ele acrescenta que, embora o modelo não identifique a raiz do movimento cambial, há uma correlação clara entre a desvalorização do real e as recentes declarações do presidente Lula.
A crescente desvalorização do real aumentou a pressão para que o Banco Central intervenha no mercado cambial. No entanto, as sinalizações do BC indicam que não é o momento para tal ação, pois não há evidências de disfuncionalidade do mercado ou falta de liquidez. Ribeiro concorda com essa postura, argumentando que qualquer intervenção poderia ser interpretada como um reconhecimento de um ataque especulativo, potencialmente desencadeando um.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou a necessidade de ajustes na comunicação governamental para estabilizar o mercado. Ele destacou a importância de manter a autonomia do Banco Central e a rigidez do arcabouço fiscal como medidas cruciais para tranquilizar os investidores.
“Ajuste na comunicação, tanto em relação à autonomia do Banco Central, como o presidente [Lula] fez hoje de manhã, quanto em relação ao arcabouço fiscal. Não vejo nada fora disso: autonomia do Banco Central e rigidez do arcabouço fiscal, é isso que vai tranquilizar as pessoas. É uma questão mais de comunicação do que qualquer outra coisa,” disse Haddad aos jornalistas na portaria do Ministério da Fazenda nesta quarta-feira.